quinta-feira, 2 de março de 2006

Palcos alfacinhas

Não há fome que não dê em fartura.
Nos primeiros anos que se seguiram ao encerramento das portas do Johnny Guitar, em meados da década passada, não havia praticamente espaços de pequena dimensão, a que eufemisticamente ou não pudessemos chamar "clube", isto é, que oferecessem uma programação razoavelmente contínua. À excepção do Ritz Club e do seu vizinho, Hot Clube, e da irregularidade que ditava o funcionamento de casas como o Paradise Garage e o Marquês da Sé, Lisboa era um autêntico deserto para quem tinha ou quisesse ter rotinas de música ao vivo.
Mas as coisas mudaram, do branco para o preto, do oito para o oitenta. De há cerca de três anos para cá, a programação musical da ZDB levou ao Bairro Alto várias centenas de concertos. Ainda que com alguma irregularidade, o Santiago Alquimista assentou arraiais na oferta de espectáculos de pequena e média dimensão. A Caixa Económica Operária parece estar, finalmente, a apontar baterias para aquela que era a sua vocação mais indicada, oferecendo agora uma programação relativente regular, com festas e concertos a acontecerem todos os meses. O Maxime, na praça da Alegria, está aí com uma programação invejável. O SB Live (que porcaria de nome, já agora), novo projecto de Pita, técnico de som do mitificado Rock Rendez-Vous, vai abrir já neste mês, lá para os lados da Expo. Uma nova versão do Johnny Guitar prepara-se também para abrir em Santos, integrado num complexo que vai ainda oferecer condições para espectáculos de grandes dimensões. Um outro espaço para 400 ou 500 pessoas, especialmente orientado para sonoridades mais alternativas, poderá abrir em breve. Tudo isto quando ainda se fala que outros agentes do meio andam à procura de espaços para abrirem salas de concertos. E devo ter-me esquecido de alguma coisa pelo meio.
É bom. Claro que é bom. Mas, nesta altura, não é de todo despropositado que alguém se ponha a fazer algumas contas de cabeça, a tentar perceber se este histerismo súbito dos investidores não será contra-producente para o futuro de todos, incluindo os músicos e o público, os actores mais importantes desta história...

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