NA SEX SHOP COM?
ADD N TO (X)
Outubro de 2000
Os britânicos add n to (x), ou seja, Ann Shenton, Barry 7 e Steve Claydon, estiveram recentemente em Lisboa para promover o seu terceiro e novíssimo trabalho, "Add Insult to Injury". Depois da estreia, há mais de dois anos, com "On the Wires of Our Nerves", e de "Avant Hard" (1999), já pela Mute, os add n to (x) continuam a sua cruzada em prol da pop electrónica praticada em exclusivo sobre instrumentos da era analógica, encontrados em sucatas e antiquários. "Add Insult to Injury" é mais uma inteligente e divertida descarga de energia sonora, algures entre a pop esquizofrénica dos Devo, o terrorismo sonoro dos Suicide e o heavy metal electrónico dos Trans Am, embrulhado pelo visual sado-ciber-pornográfico, que esteve aliás na base da escolha do sítio para a realização das entrevistas com a imprensa portuguesa: uma... sex shop. Foi aí que a Musicnet teve uma desinibida conversa com Ann Shenton, a dominatrix do grupo.
Alguma vez foi entrevistada numa sex shop?
Nunca. Esta é a minha primeira entrevista numa sex shop [N.R.: ainda que isso pouco interesse, também era a primeira vez do entrevistador. Primeira vez que fazia uma entrevista numa sex shop, entenda-se].
Qual é o seu item favorito aqui?
As cabines. Assim que cheguei percebi logo que tinha que ir ver alguns shows. Vi o das duas pessoas a fazerem sexo, o "double", vi a Nicki e - fui lá três vezes (risos) - vi a Doris.
É uma fã do porno?
O meu filme porno favorito é com uma dinamarquesa chamada Bodil, a "horse woman". Talvez não seja na verdade o meu filme favorito mas eu fui levada pelo seu estilo de vida. Ela adorava animais (risos) e na aldeia em que ela vivia, com um realizador dinamarquês de porno famoso (não me recordo do nome dele), toda a gente lhe chamava nomes, tendo ela acabado por se matar na companhia do seu cavalo. Ela tinha umas botas lindíssimas, enquanto era comida por um cavalo...
Se tivesse que escolher, "Deep Throat" ou "Behind the Green Door"?
Não conheço o "Behind the Green Door"... O meu namorado tinha um vídeo com vários "clips". Um numa quinta com uma mulher a fazer sexo com um cão e coisas assim que um amigo dele havia feito há montes de tempo. Esse era o melhor vídeo que eu alguma vez tinha visto. Mas a sua mãe, que era muito religiosa, encontrou-o. Quando ele chegou a casa não o encontrou na sua colecção de vídeos no seu quarto. Desceu e viu-o na sala de estar. A mãe dele havia gravado por cima um programa religioso qualquer...
Quem desenhou a "add n to (x) fucking machine" [visível no videoclip de "You Plug Me In", por exemplo]?
Foi feita por um tipo que trabalhou no filme "Alien". Agora tenho-a no meu apartamento em Londres Ocidental e as minhas companheiras de casa odeiam-no.
Já alguma vez brincou com ela?
Aquilo trabalha e tudo, mas o "dildo" é muito frouxo. É mais uma coisa visual e acho que não servirá para muito mais que isso. Eu fiz demonstrações na sala de estar e era aqui que ele estava, mesmo no meio da carpete, mas as raparigas de lá de casa chatearam-me para eu o tirar e agora está na cozinha, debaixo da mesa e com uma toalha por cima. Elas têm medo. Algumas pessoas acham-lhe graça, outras assustam-se.
Qual foi o pior comentário feito aos vídeos de "You Plug Me In" ou "Metal Fingers in my Body"? [N.R.: videoclips que geraram alguma polémica, devido aos seus conteúdos menos católicos.]
Não houve nada de particularmente mau. Até foi engraçado e simpático. Foi estranho [o vídeo de "Metal Fingers in my Body"] não ter sido autorizado para passar no Japão, porque o desenho da mulher tinha pelos púbicos e no Japão os pelos púbicos não são permitidos. Foi uma coisa que me deixou magoada. No Japão, os desenhos manga são tão violentos mas tudo bem, não têm pelos púbicos. O nosso vídeo foi censurado no Japão porque um desenho tinha pelos púbicos. Achei isso insultante e estúpido.
Qual é a sua ideia de sexo virtual? [N.R.: atenção, a entrevista foi feita ao vivo e nada se passou depois da mesma.]
Aqui há alguns anos, havia uma rapariga conhecida minha que estava a fazer pesquisa nessa área e estava à procura de voluntários para testar os aparelhos. Eu ia mesmo fazê-lo, mas depois não aconteceu. Queria mesmo tê-lo feito e ainda o quero.
É boa a matemática?
De maneira nenhuma.
Se Leon Theremin [N.R.: Lev Sergeivitch Termen, russo que inventou o theremin, o primeiro instrumento musical a ser tocado sem o contacto físico do intérprete] fosse vivo, o que lhe diria?
Diria-lhe: "pode-me construir um daqueles [theremins] grandes de madeira, como o do Jon Spencer?". Eu perguntei ao Jon se ele queria trocar o dele e ele mandou-me dar uma volta. Quero um dos grandes, dos originais. Eu tenho um bom, um etherwave assinado pelo Bob Moog, mas adoraria ter um dos originais.
E ao Bob Moog [N.R.: inventor do MOOG, outro dos instrumentos analógicos - um sintetizador, neste caso - mais utilizado pelos add n to (x)] , o que diria se o encontrasse?
Já tivemos - eu, o Barry e o Steve - esta conversa antes. Não achamos que o Bob Moog iria gostar de nós. Ele fez o MOOG para sintetizar outros instrumentos e nós usamo-lo como o raio de uma máquina com uma sonoridade louca.
Qual é a sua boysband favorita?
Iggy Pop and The Stooges.
David Holmes ou John Holmes?
Nenhum deles.
Aphex Twin ou Cocteau Twins?
Cocteau Twins. Creio que Liz Fraser é uma das mais incríveis mulheres assustadoras e estranhas. Liz Fraser, Marianne Faithful, Janis Joplin, Nico, ... eu sempre gostei destas mulheres. Estranhas, pouco comuns, ... Adoraria poder sair com Janis Joplin. Gostaria de ter uma noite de raparigas com a Mariane Faithful, a Liz Fraser, a Janis Joplin e a Anita Pallenberg.
E se fosse uma noite com rapazes?
Tom Verlaine, Iggy Pop e os Black Sabbath (todos eles). Isso seria uma óptima noite. Uma vez estive no Idaho, no centro da América, e saí com uns motoqueiros - os Irmãos Velocidade - e eles eram óptimos tipos para com quem se sair. Se o Iggy Pop lá estivesse teria sido ainda melhor.
Suicide ou Devo?
Eu adoro ambos. Eu vi os Suicide tocarem três noites seguidas no Garage, em Londres, e foi tão, tão barulhento que fiquei surda no fim... Nunca vi os Devo ao vivo, pelo que acho que devo escolher Devo, até porque me sinto mais intrigada por eles. Já conheci o Martin Rev e o Alan Vega e já os vi tocar uma série de vezes, mas nunca conheci ninguém dos Devo, nem nunca os vi a tocar ao vivo. E também porque eu pareço, toda a gente o diz, uma mongolóide, quando acordo de manhã (risos), e isso é uma das grandes canções deles [N.R.: "Mongoloid", do álbum de estreia "Q: Are We Not Men? A: We Are Devo!"].
Brian Eno ou Brian Ferry?
Eu conheci o Brian Ferry num restaurante e consegui o seu autógrafo. Penso que deve ser um dos homens velhos mais atraentes na Terra, mas eu adoro o cabelo do Brian Eno e ele tem um óptimo equipamento analógico, também.
Qual é o significado de "Peanuts for Eno", título de uma das faixas do novo álbum?
(Risos) Nós temos estas frases entre nós... Não é necessariamente um insulto. Temos outra em que, em vez de dizermos Enio Morricone, dizemos Uncle Morricone. Apenas mudamos palavras fazendo nonsense a partir delas, a partir dos nomes das pessoas. Quando estamos aborrecidos em estúdio começamos a fazer palavras estúpidas.
Spice Girls ou Chicks on Speed?
Chiiiiiicks on Speeeeed!!!!!
Walter ou Wendy Carlos?
(Risos) Wendy? Vá lá, a Wendy tem que ser mais feliz que o Walter, ou então o Walter não se tinha tornado na Wendy, vá lá... E eu poderia sempre lhe pedir emprestado o seu bâton ou poderíamos fazer o penteado uma à outra. Adorava sair com a Wendy.
O que acha da Goldfrapp? [N.R.: Allison Goldfrapp participou no anterior "Avant Hard" e é colega de editora, isto é, na Mute]
Fui ver a Allison tocar num clube londrino na passada semana. Acho que ela consegue mesmo agarrar uma assistência. Ela tinha todos estes tipos estranhos a olhar para ela. Nós também temos tipos estranhos nos nossos concertos, e eu gosto de tipos estranhos, mas ela atrai homens que estão apaixonaaaaaaaados por ela e nós atraímos pessoal que está mais interessado no material analógico. Eu trabalhei durante algum tempo numa instituição psiquiátrica e consigo lidar com malucos, talvez a Allison não consiga. Posso lhe dar algumas lições.
Costumam acontecer coisas menos comuns na primeira fila dos vossos concertos?
Sim, e isso é óptimo. É esta coisa catártica, louca e sexual. Se alguém se quer despir, despe-se. Se alguém se quer masturbar, masturba-se. Já vi um pouco de tudo em concertos.
Quem é o "Regent" que aparece em todos os vossos discos?
Morreu, graças a Deus. É uma trilogia que chega ao fim. Tínhamos o "Black Regent", depois o "Revenge of the Black Regent" e agora está morto, cometeu suicídio (N.R.: "Add Insult to Injury" termina com a faixa "The Regent is Dead"]. Era uma coisa das trevas que nos assombrava, um terrível e estranho conde vestindo roupas negras que andava sempre com um olho nos add n to (x) e agora matámo-lo. E não vai ser como o Bobby Ewing. Ele não vai voltar.