Na primeira vez que ouvi "Go Out", disse logo para os meus botões e para alguns amigos: não gosto. Parecia, e acho que o verbo é o mais apropriado, parecia demasiado desinspirado, demasiado seco, demasiado mecânico. Parecia a composição pop típica de quem já está farto da pop, de quem o faz por obrigação, de quem já não tem a verve juvenil de outrora, de quem já não perde horas e horas a compor uma canção e se vê remetido a um plano de dois ou três dias num estúdio alugado com o compromisso de criar material novo.
Mas, repito, parecia. Porque agora "Go Out", depois de ouvidas tantas vezes na rádio, já me soa diferente daquela que ouvi à primeira vez. Já consigo sentir uma certa familiaridade. Se antes não ia à bola com a canção, já estou a considerar comprar os bilhetes e dar-lhe um telefonema.
Ora, isto leva então a uma certa pergunta. Não é nova, mas não é discutida com frequência e é, parece-me, cada vez mais atual:
Que oportunidades damos hoje à música nova que ouvimos? E os que já levam alguns anos disto, tentem lá pensar no tempo em que ora tinham mais tempo para escutar música, ora não havia tantas rádios com playlists e programas de qualidade, ora não havia internet e praticamente qualquer disco que se faça no mundo inteiro ao alcance de dois ou três toques...
A segunda questão já é mais uma constatação. Ouve-se o "Go Out" e percebem-se ali técnicas, instrumentos, sons, etc., que nunca fariam parte do mainstream, nem dos Blur, de há 15 ou 20 anos. Talvez porque Brian Eno, Björk, os Radiohead e tantos, tantos outros, trouxeram material dos seus laboratórios (e de outros) para o terreno comum do mainstream, talvez por isso tenhamos coisas como esta "Go Out" em playlists e pronta a lançar os Blur para grandes digressões, a encerrar grandes festivais, para toda a gente.
Mas... sempre foi assim, não? É assim, através destas ondas de contaminação, que evolui a música ao longo dos tempos, não?
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