segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Um rescaldo rápido, muito rápido, quase tão rápido quanto o furacão Gordon, de uma passagem pelo Maré de Agosto

A ilha, a de Santa Maria, a mais meridional do arquipélago dos Açores, é pequena. E bonita. Numa tarde, e com carro, percorrem-se facilmente todos os seus belíssimos recantos. Pelo menos, aqueles que estão mais facilmente acessíveis. É pequena, mas neste fim-de-semana de agosto, como o que passou, Santa Maria enche-se de miúdos e graúdos, mais os primeiros, vindos de todo o arquipélago e de um e do outro lado do Atlântico.

É o grande festival da região. E no continente, quando se fala de festivais, frequentemente se ignora que este é o mais antigo dos que ainda se encontram em atividade (e não o de Paredes de Coura). Neste passado fim-de-semana, foi a 28ª edição. Vigésima-oitava. A equipa que o produz tem vindo a ser renovada e hoje a ACMA, Associação Cultural Maré de Agosto, é conduzida por jovens que sabem bem o que fazem, têm gosto pelo que fazem e que recebem como bons açorianos quem vem de fora. Sem tubarões à vista, outros que não os patrocinadores do costume. Adiante. O espetador não o vê, mas este é também o grande festival da região quando se percebe que muito do que ali é montado junto à praia Formosa é proveniente de vários pontos do arquipélago. Desta e daquela ilha aparece, por solidariedade regional, o PA, o palco, o material do backline. Um continental estranha.

A programação não é a mais coerente que por aí se vai vendo. O Maré de Agosto não é um festival de rock, não é um festival de world music, não é um festival de música de dança. Não é um festival para miúdos, não é um festival para graúdos. Tem um pouco de tudo, sem grandes preocupações na linha com que as diferentes partes da noite são cosidas. Ter o Hamilton de Holanda com o choro irrepreensivelmente a ser arrancado ao seu bandolim e acompanhado por um harpista colombiano seguido de uma popstar com o Charlie Winston ou, depois, o grupo incrível do libanês Rabih Abou-Khalil pisar o mesmo palco que os Crystal Fighters, lança quem sabe ao que vai, ou quem está habituado a outros enquadramentos, num mar de dúvidas. Mas a verdade é que esta miscelânea esquisita acaba por chegar a bom porto quando se percebe que aquela miudagem que enche o morro frontal à praia aprecia o que vai vendo, mesmo quando pouco ou nada conhece de um cartaz que, felizmente, não resvalou para o facilitismo do mainstream. Assim, vale a pena.

As condições para o público, que varia entre os dois ou os quatro milhares de pessoas, salvo erro, são boas, as bebidas não são caras e não obrigam a grandes filas de espera, durante o dia há praia de água quente como sopa, as próprias bandas sentem-se privilegiadas por estarem a tocar numa ilha tão bela. Que mais se pode querer? Venham mais marés e menos furacões. E sem tubarões. Só cachalotes.

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