terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
A morte nas linhas de uma auto-biografia
"Margrave of the Marshes", a auto-biografia de John Peel da qual tenho aqui citado algumas passagens, muito pela combinação incendiária de humor e de relevância para o conhecimento da vida de um homem que, não sendo um músico, marcou com a sua paixão pela partilha a evolução da música popular ao longo dos últimos anos, é uma auto-biografia diferente das outras. Pelo menos, daquelas que li até hoje. Há uma morte pelo meio. Azar dos azares, humor do mais negro, como Peel certamente apreciaria, é o o biografado que morre. O leitor segue com entusiasmo as recordações não menos entusiastas das suas aventuras por terras texanas, dos bares perigosos, dos seis diferentes Sonny Boy Williamsons ou dos 12 Memphis Slims, das quecas mais ou menos fortuitas nos bancos de trás dos enormes carros americanos, até que, de repente, acaba-se o capítulo, sem mais, nem menos. Fecha-se o pano e acaba a primeira parte. Na segunda, como numa tragicomédia grega, tudo parece mudar, com a viúva Sheila a pegar na escrita, a partir das suas recordações ou dos diários do marido. Nem tudo muda, porém. Continuam o mesmo humor e a mesma relevância e interesse em contar episódios que ajudam a conhecer a pessoa e, depois, o profissional de rádio (ou vice-versa). Da primeira pessoa, passamos para a terceira. Pelo caminho, morreu o biografado. É tristemente cómico ou comicamente triste, como preferirem.
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