quarta-feira, 3 de setembro de 2003

O Rock in Rio Lisboa

No Jornal de Negócios da passada semana vem um artigo alargado sobre os números do festival Rock in Rio Lisboa, que acontecerá para o ano, entre 29 de Maio e 6 de Junho, na capital. São números que, claro, impressionam o olhar mais incauto:
• Cartaz com 70 bandas;
• Cinco mil (!) empregos directos;
• 25 milhões de euros de bilheteira;
• Bilhetes de dia a 50 euros;
• Investimento superior a 30 milhões de euros;
• Presença esperada de 500 mil pessoas (embora aqui já saibamos como são sempre feitas as contas desta cifra: somam-se os públicos dos diferentes dias, o que ainda assim dá um número surpreendente se o formos a dividir pelos 7 dias do festival...)

Ressalta ainda outro pormenor importante na leitura do artigo. A Associação de Turismo de Lisboa vai, segundo representante da própria, entrar em 5% do investimento total. E para isso vai candidatar-se ao Programa de Intervenção na Qualificação do Turismo (o famoso PIQTUR), o qual deverá participar com 75%. O artigo não deixa claro se estes 75% são inteiramente a fundo perdido ou não. Mas façamos as contas: 75% de 5% de 30 milhões dá... 1125 mil euros, isto é, cerca de um milhão de euros. Bem sei que o investimento neste festival pode ser proveitoso para o futuro do turismo na região de Lisboa. Mas parece-me também mais do que óbvio que este é um festival puramente comercial, isto é, com capacidade de gerar receitas por si próprio, que vão desde as bilheteiras (ainda que acredite que as receitas de bilheteira estimadas estejam algo sobrevalorizadas) aos grandes e pequenos patrocínios. Mas, tinha que lá estar 5% em dinheiro público. O PIQTUR não tem dinheiro para realizar outros projectos porventura mais interessantes e mais carentes de financiamento, mas já apoia projectos comercialmente viáveis... Talvez se assim não fosse, Roberto Medina fosse fazer o festival em qualquer outra capital europeia, eu sei. Mas é triste ver as coisas acontecerem assim, como se o paradigma da relação entre uma câmara municipal de província e um industrial ganhasse contornos europeus, enquanto outras, porventura mais interessantes e mais carentes de financiamento não acontecem...
(Uma nota final para o ilustrador do JdN: eu sei que no Jdn fala-se de números e que mesmo quando o tema é o rock, é para se falar de números do rock. E o trabalho é, tirando uma coisa ou outra, bem conseguindo. Mas não havia necessidade de criar uma guitarra tão mal feita... quatro cordas para cada lado? :>)

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