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quinta-feira, 6 de março de 2008

Farto dos loops (ou talvez não)

Farto dos loops. Desde há alguns dois ou três anos para cá, com o desenvolvimento do mercado dos concertos de pequena envergadura, tem-se visto nos nossos palcos muitos músicos a solo, alguns deles elementos de bandas bastante conhecidas, a apoiar-se num looper para fazer algo que se aproxima, em teoria, do som de uma banda completa. Em teoria. O músico traz a sua guitarra e os pedais miraculosos da Boss ou de outras marcas. Mete o resguardo, grava. Mete o lençol de baixo, grava. Mete o lençol de cima, grava. Mete o cobertor, grava. Não é raro o caso em que, à custa de tanta repetição do processo, levamos a metáfora a sério e deixamo-nos atacar pelo sono. O Final Fantasy, dos Arcade Fire, faz a cama, o Andrew Bird faz a cama, o Fabrizio Palumbo, que no outro dia estava na primeira parte do Michael Gira, faz a cama. Até a Louise Rhodes, dos Lamb, terá feito a cama no concerto do Santiago Alquimista. E a lista de músicos que têm cá vindo mostrar-se desta forma é infindável. Há casos em que, por uma razão ou outra, o processo, apesar de formalmente idêntico a todos os outros, até acaba por ter algum interesse, como têm demonstrado os concertos a solo do Tó Trips. Mas, na maioria dos casos, convenhamos, já chega.

Ou talvez não. Mas há quem utilize a ferramenta de forma que só pode ser classificada de genial. Um desses casos é o do inglês David Thomas Broughton, que passou nestes dias por Portugal, para concertos no Mercado Negro, em Aveiro, e na ZDB, em Lisboa. Podem ir ouvi-lo ao myspace, mas não vão perceber por inteiro, como eu não percebi ao final desta tarde, o que ele consegue fazer da sua actuação. Toca guitarra como um folkman inglês do tempo de Donovan, de Vashti Bunyan ou da Incredible String Band. Tem um vozeirão incrível, comparável em parte a Nick Drake ou ao mais recente Antony. Mas é na utilização descomprometida e lúdica dos loops que a sua genialidade sobressai. Do nada, de onde não se espera, surge matéria para fazer uma e outra e ainda mais outra camada de som que se complementam de forma soberba. Do arrastar da cadeira, faz-se um ritmo. De um sussurro, faz-se um ambiente. Com o som de rewind de um walkman ou de um ukelele, faz-se um solo que arranca sorrisos da assistência. Só com vozes -- e que voz que ele tem, não é de mais repeti-lo -- faz-se um coro a capella. E, ao contrário do que acontece com a generalidade dos outros viciados em loops, as camadas não duram ad aeternum. Nem há propriamente as canções do costume para os loopers, com o irritante início de "fazer a cama". Há um longo set, inspirado, sem pausas, que agarra o espectador, curioso que fica pelo que pode acontecer a qualquer instante. É o concerto do ano, para já, aqui por estas bandas.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Listas 2007: os melhores álbuns para os leitores

LCD Soundsystem e Panda Bear, pois claro. :)



1. LCD SOUNDSYSTEM "Sound of Silver"
2. PANDA BEAR "Person Pitch"
3. ARCTIC MONKEYS "Favourite Worst Nightmare"
4. CHROME HOOF "Pre-Emptive False Rapture"
5. ARCADE FIRE "Neon Bible"
6. BATTLES "Mirrored"
7. EINSTÜRZENDE NEUBAUTEN "Alles Wieder Offen"
8. M.I.A. "Kala"
9. RADIOHEAD "In Rainbows"
10. ANDREW BIRD "Armchair Apocrypha"

domingo, 3 de junho de 2007

Everything is fucked.

Uma pessoa vai com todas as expectativas do mundo. Uma pessoa anda à espera de vê-los há anos. Uma pessoa recebe mensagens dos amigos a dizer "[em Barcelona] foi do c. tens que ir". Ou seja, como dizia antes, uma pessoa vai com todas as expectativas do mundo.

Mas e se todas as expectativas do mundo com que uma pessoa vai são desde logo ultrapassadas, a uma velocidade seguramente interdita por lei, logo aos primeiros minutos do concerto? (Sim, é de um concerto que se fala. O concertaço dos Dirty Three, esta noite no Lux.)

Jim White, o baterista, e Mick Turner, o guitarrista, são peças imprescindíveis neste jogo de cadências e explosões que os Dirty Three fazem colidir em palco, disso não se tenha qualquer dúvida, mas é sobre o violino de Warren Ellis que acaba por recair, na maior parte das vezes, a atenção. Ele não fez um pacto com o diabo. Ele é mesmo o diabo. Não que seja o mais virtuoso dos violinistas. Em rigor, ele até nem é o violinista clássico (como o Andrew Bird, para citar um exemplo com menos de 48 horas passadas, o é, mesmo apesar das referências folk dos Squirrel Nut Zippers). Ellis é o "fiddler" que anima uma tasca barulhenta algures no meio do deserto australiano, acompanhado de bouzukis num numa aldeia grega, musicando lendas de lobos algures na Europa de Leste. E ainda tem a lata de tirar feedbacks do instrumento.

O concerto desta noite conseguiu ser, por diversos momentos, e não se tenha pejo em usar a palavra quando ela deve ser efectivamente usada, epifânico. Foi a celebração plena daquilo que a música consegue por vezes produzir ao vivo: um rapto violento da consciência do ouvinte (e tão bem que sabe fechar os olhos e facilitar essa captura) para uma terra de ninguém, onde se experimentam sensações que só algumas drogas poderão produzir. O regresso do cativeiro é que pode não ser fácil. É que se sente saudades.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Um grande 31

A fartura dá nisto. E cada vez mais. Há que perder de vez a ideia de se querer estar em todos os concertos que por cá vão acontecendo. E não é só por causa da carteira. É também porque nos é negado o dom da ubiquidade. Ora reparem no que se vai passar na quinta-feira da próxima semana, dia 31 de Maio: o mítico Johnathan Richman vai estar no Santiago Alquimista; a singular Nicotine's Orchestra apresenta o álbum de estreia na ZDB; a folia italiana dos Anonima Nuvolari assenta arraial no B.Leza; ah, e ainda há o Andrew Bird no São Jorge.
Claro que não é todos os dias que temos por cá o Johnathan Richman. Mas que fica um amargo de boca por perder tudo o resto, fica.


(Actualização: afinal, como avisa o Luís Rei nos comentários, os Anonima Nuvolari tocam no B.Leza a 30 e não 31 de Maio. Menos uma dor de cabeça!)

(Actualização dois: ele há dias em que mais vale ficar quieto, não postar nada, enfiar a cabeça na areia e apenas desenterrar quando se conseguir estar desperto e atento o suficiente. Não só os Anonima Nuvolari são a 30, mas também o Johnathan Richman é nesse dia. Por mais um acesso de parvoíce, acabei por trocar os dias dos concertos dele e dos Pelican, esses sim, no dia 31. Vou dormir para casa, mas é. Ou então apanhar choques nas tomadas.)