terça-feira, 30 de junho de 2015

100 do FMM (até ver), do 71 ao 80


71. KONONO NO.1 (RD Congo)
praia, 30/jul/2005

72. KIMI DJABATÉ (Guiné-Bissau)
Castelo, 30/jul/2010::vídeo::
"Já sabemos, mas ainda não somos muitos, que o Kimi Djabaté é um dos músicos maiores que connosco convivem. É grande nos discos, é grande nas actuações a solo, mas experimentem deixá-lo aparecer com a banda completa, incluindo o genial Galissá na kora."

73. MORIARTY (EUA)
Centro de Artes, 22/jul/2008::vídeo::

74. WALDEMAR BASTOS (Angola)
Castelo, 23/jul/2008::vídeo::

75. SILVÉRIO PESSOA (Brasil)
praia, 24/jul/2008::vídeo::

76. TARAF DE HAÏDOUKS (Roma / Roménia)
Castelo, 0/jul/2001

77. KTU (Finlândia / EUA)
Castelo, 25/jul/2008::vídeo::
"Virtuosos de outro planeta. (…) Qualquer um dos KTU."

78. WIMME (Lapónia)
praia, 29/jul/2010::vídeo::
"Há mais de dez anos que ansiava por um concerto dele por cá e nunca imaginei que fosse tão bem recebido como foi ali em Sines, no palco da praia, ao fim da tarde, para uma música que se imagina nas montanhas, no frio."

79. HANGGAI (China)
Castelo, 23/jul/2009
"Calhou termos assistido ao concerto dos chineses Hanggai ao lado um do outro e o Manuel foi aproveitando os intervalos para discutir algumas ideias interessantes. A que mais guardei prendia-se com a curiosidade de o canto gutural (ou próximo de gutural), algo que os Hanggai transportam para o seu universo rock, se ter desenvolvido em pontos diversos do mundo com uma característica comum: áreas pouco densamente povoadas. (texto completo, "Músicas Universais e Paralelas", aqui.)"

80. UXÍA (Galiza / Portugal / Guiné-Bissau)
Castelo, 22/jul/2009::vídeo::

segunda-feira, 29 de junho de 2015

100 do FMM (até ver), 81 ao 100

Vem aí julho, vem aí FMM. A 17.ª edição do Festival de Músicas do Mundo de Sines acontece de 17 a 25 de julho e tem como enormíssimo cabeça de cartaz o maliano Salif Keita (última noite). Mas antes de mais, retrospetivemos um pouco, alimentemos essa nostalgia danada. Começo aqui a minha lista de concertos diletos do FMM ao longo destes anos, entre mais de três centenas de coisas boas (e umas ou outras não tão boas assim) que vi e das quais tirei notas. Aproveito também para recordar algumas das palavras escritas no passado a respeito de alguns destes momentos inesquecíveis.


81. CHUCHO VALDÉS BIG BAND (Cuba)
Castelo, 23/jul/2009::vídeo::

82. HERMETO PASCOAL (Brasil)
Castelo, 29/jul/2005

83. ALINE FRAZÃO (Angola)
Centro de Artes, 23/jul/2013::vídeo::

84. SIBA E A FULORESTA (Brasil)
Centro de Artes, 17/jul/2008::vídeo::
"(…) Festa popular. Siba e a Fuloresta no exterior do Centro de Artes, com o Siba a improvisar versos dedicados a Sines, às pessoas e ao festival. (…)"

85. MARIEM HASSAN (Saara)
Castelo, 29/jul/2006
"Grandes surpresas [do FMM 2006]: K'Naan e Mariem Hassan."

86. L’ENFANCE ROUGE & LOFTI BOUCHNAK (França / Itália / Tunísia)
Castelo, 20/jul/2012::vídeo::

87. CHICHA LIBRE (EUA)
praia, 24/jul/2009::vídeo::
"Na praia, ainda, destaque também para os Chicha Libre, que, apesar do mau som com que começaram o espectáculo, foram melhorando cada vez mais, até terminarem com uma estrondosa versão de "Guns of Brixton", dos Clash."

88. LEE 'SCRATCH' PERRY (Jamaica)
Castelo, 25/jul/2009::vídeo::
"No último dia do FMM, as atenções, claro, estiveram voltadas para Lee 'Scratch' Perry. No backstage, o clima era de um alvoroço nunca visto, com toda a gente à espera da chegada da lenda do dub, que aconteceu minutos antes do concerto. Do lado da plateia, uma imensa multidão esperava também ansiosamente que este senhor de 73 anos de idade subisse ao palco, o que faria depois da habitual introdução da banda de suporte, enfeitado da cabeça aos pés, multi-colorido, ainda que o dourado assumisse domínio, "trashy" como diria a miudagem fashionistas de hoje, e transportando uma mala de viagem que não serviu para nada a não ser ajudar a compor a imagem. Instantes depois, veio um dos momentos com que o FMM marca a última actuação do castelo desde a sua primeira edição, o fogo-de-artifício. Ainda que menos espampanante que em outros anos, colou muito bem a "Fire", um dos temas de "Repetance", o álbum que Andrew W.K. (!) produziu para Perry no ano passado. O resto da noite prosseguiu com o dancehall entaramelado de Perry, típico dos anos recentes da carreira do jamaicano, que fez toda a gente dançar e suar até ao fim."

89. SEUN KUTI & EGYPT 80 (Nigéria)
Castelo, 29/jul/2006::vídeo::

90. DEBASHISH BHATTACHARYA (Índia)
Castelo, 24/jul/2009::vídeo::

91. JANITA SALOMÉ (Portugal)
Castelo, 22/jul/2009::vídeo::

92. RABIH ABOUH-KHALIL & JOACHIM KÜHN & JARROD CAGWIN (Líbano / Alemanha / EUA)
Castelo, 27/jul/2006

93. JP SIMÕES (Portugal)
Castelo, 20/jul/2013::vídeo::
"(…) a música é ótima, os interlúdios nunca falham (…)"

94. KASAÏ ALLSTARS (RD Congo)
Castelo, 23/jul/2009

95. HAZMAT MODINE (EUA)
Porto Covo, 18/jul/2008
"Virtuosos de outro planeta. (…) Wade Schuman, dos Hazmat Modine, na harmónica. "

96. GALANDUM GALUNDAINA (Portugal)
Porto Covo, 20/jul/2007::vídeo::

97. OUMOU SANGARÉ (Mali)
Castelo, 25/jul/2007::vídeo::

98. WORLD SAXOPHONE QUARTET (EUA)
Castelo, 27/jul/2007::vídeo::

99. NURU KANE (Senegal)
Castelo, 28/jul/2006

100. 34 PUÑALADAS (Argentina)
Castelo, 29/jul/2010::vídeo::
"Quem os viu e quem os vê. Cinco anos depois, os 34 Puñaladas voltaram a Sines, voltaram a dar um espectáculo ao fim de tarde, mas agora, numa formação mais reduzida, e com as guitarras e o tremendo calor da voz do Alejandro Guyot a darem ao tango a dignidade e a ousadia que realmente merece."

terça-feira, 2 de junho de 2015

100 de 1973, o primeiro deles todos: ENO - HERE COME THE WARM JETS



HERE COME THE WARM JETS
ENO (Inglaterra)
Edição original: Island
Produtor(es): Brian Eno
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Para lá de toda aquela imagem andrógina e espampanante com que Brian Eno aparecia em público na altura, ainda na espuma da onda do glam, havia, já se sabia, um esteta compulsivo com requintes de cientista louco quando montava laboratório nos estúdios de gravações. Reza a lenda que para esta sua estreia a solo terá reunido 16 músicos razoavelmente diferentes para que do choque entre as diversas abordagens pudesse captar a energia do acidente. Assim como os físicos que se entretém a ver partículas a coliderem entre si. Chamou a si todos os Roxy Music, à exceção de Bryan Ferry. Foi buscar o baterista Simon King aos Hawkwind e o baixista Paul Rudolph aos vizinhos Pink Fairies, também ele futuro Hawkwind. De Canterbury, chamou o baixista Bill MacCormick, dos Matching Mole. Dos King Crimson, vieram o guitarrista Robert Fripp, com quem Eno já tinha trabalhado no excelente "(No Pussyfooting)" (ver abaixo nesta lista) e o baixista John Wetton. Ainda teve a ajuda do guitarrista Chris Spedding. Depois, continua a lenda, dançou para eles. Ou melhor, Eno dirigiu os músicos através da dança e de outros sinais, corporais ou verbais, aos quais estes iam respondendo em simpatia. Na posse das gravações individuais, lançou-se depois a um meticuloso trabalho de mistura, corte e costura, do qual fez parir uma dezena de canções das quais se diz terem poucas ou nenhumas semelhanças com os contributos originais. À boa maneira inglesa da altura, juntou-lhe rapidamente letras cómicas que soassem bem e que, à exceção da história do dragão humano A.W. Underwood invocada em "The Paw Paw Negro Blowtorch", pouco ou nenhum sentido fizessem. É que a voz era mais um instrumento manipulado pelo cientista louco.

Ao 12.º dia, o criador chamou-lhe um álbum e descansou.

Há nestas dez canções ainda muito dos Roxy Music, claro, pelo menos na forma como Eno veria o grupo de onde tinha saído meses antes. As duas primeiras faixas, "Needles In The Camel's Eye" e "The Paw Paw Negro Blowtorch" são bons exemplos dessa espécie de declaração de interesses de Eno. Em "Baby’s on Fire" também, mas aqui já tínhamos a guitarra incendiária de Fripp a pegar fogo aos modelitos de lantejoulas, num solo que ainda parece furar os ouvidos de muita gente nos dias de hoje. "Cindy Tells Me" volta ao glam, por via da pop dos anos 60, como se fosse revista pelos Velvet e depois esticada pela saturação de efeitos de Eno. Em "Driving Me Backwards", parece que há um filme a andar para trás, enquanto um pianista se houve do fundo de uma cave, exortando os seus demónios, momento negro que é logo compensado pela beleza de "On Some Faraway Beach", uma melodia de tons nostálgicos que fica no ouvido, uma fórmula que Eno viria a repetir aqui e em discos futuros. Volta ao glam em "Blank Frank", porventura deitando mais ácido sarcástico para cima do seu passado recente. Cheia de voz e de letras parvas e boas vem depois "Dead Finks Don’t Talk". Pop épica a abrir uma alameda de aclamação para os dois grandes momentos finais do disco. Talvez devamos dizer os monumentos finais do disco. O primeiro, "Some of Them Are Old", lembra Robert Wyatt ou outro amigo deste, Ivor Cutler, mas aqui Eno, ou melhor, os vários Enos que aqui ouvimos em coro conduzem a folk que constitui a melodia da canção a cenários cósmicos, como quando Sun Ra levava o bebop para além de Saturno. No final da canção fica um piano solto, perdido no espaço, como que uma sinfonia do rasto radiofónico do big bang, a qual se continua a ouvir, se estiverem bem atentos, na faixa final, que dá ou recebe o título do álbum. Nela, voltamos aos traços nostálgicos que Eno tão bem consegue deixar numa canção, seja a solo, seja nas bandas que já produziu até hoje. É tão bom este momento que não conseguimos fazer outra coisa que não seja voltar a ouvir o disco do princípio.

A meio caminho entre o glam, cujo prazo estava a acabar, e o punk, que batia à porta, Brian Eno conseguiu um disco da mais extraordinária pop. Pop para gente chanfrada, é certo, mas pop extraordinária. E vanguardista, até para os dias de hoje.


(Antes que alguém venha do Wikipedia com a reclamação de que o disco saiu já em janeiro de 1974, aconselha-se primeiro a leitura da página de discussão das alterações que esse artigo já teve, nomeadamente no que à data de lançamento concerne. Também poderá ver o registo no Discogs ou, talvez ainda mais importante..., o próprio disco. O meu, em CD, tem claramente indicação de 1973 como ano da edição original...)

segunda-feira, 1 de junho de 2015

100 de 1973, n.º 2, José Afonso



VENHAM MAIS CINCO
JOSÉ AFONSO (Portugal)
Edição original: Orfeu, Arnaldo Trindade & Cª
Produtor(es): José Niza
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"A formiga no carreiro vinha em sentido contrário, caiu ao Tejo ao pé de um septuagenário. Larpou, trepou às tábuas que flutuavam nas águas e do cimo de uma delas virou-se para o formigueiro: mudem de rumo, já lá vem outro carreiro."

Sim, o país iria mudar de rumo no ano seguinte. José Afonso vinha ajudando a erguer uma certa tensão pré-revolucionária, convocando pelo país inteiro os ânimos dos revoltados. O regime, que cada vez mais dificuldades teria em gerir a crescente sublevação trazida pelas artes populares, em particular pela música de Afonso e de outros, respondia com a prisão: em maio de 1973, o cantor era encerrado na prisão de Caxias, por onde ficou durante vinte dias. Aí, diz-se ter escrito várias das canções que compõem este álbum, como aquela que viria a ser o extraordinário poema de "Era um Redondo Vocábulo". No outono do mesmo ano, reuniu-se em Paris com José Mário Branco e quase duas dezenas de músicos franceses, para gravar o disco, que viria a ser lançado em Portugal no Natal seguinte.
Apesar de toda esta tensão, que poderia fazer regressar algum do imediatismo que as canções de José Afonso tinham tido em discos anteriores, "Venham Mais Cinco" não é um disco direto ou pragmático. Há letras que são de leitura direta, é certo, e que talvez por isso se tornariam banda sonora obrigatória da revolução, como a do próprio tema-título ou "A Formiga no Carreiro" (acima citada). Em todo o caso, José Afonso vinha, já desde os discos imediatamente anteriores, a trilhar com sabedoria novos caminhos de modernidade, que parecem impossíveis de terem encontrado eco favorável no atraso do país de então. Era como se a semente da educação, que Afonso tanto se empenhou a espalhar pelo país ao longo dos anos, estivesse agora a dar frutos. Portugal já podia acolher um disco como "Venham Mais Cinco", já podia acolher esta modernidade invulgar estampada nas letras, nas composições e nos arranjos. Era como se uma espécie de tropicalismo à portuguesa estivesse a nascer, pelas mãos do maior génio que as nossas músicas conheceram.