quarta-feira, 31 de agosto de 2011

As crianças têm que gostar do Major Tom. Este, pelo menos.

Um ilustrador canadiano, Andrew Kolb, pegou na letra do "Space Oddity", a canção que David Bowie lançou em 1969, e transformou-a num livro para crianças. Ainda não há versão física da obra, mas a mesma pode ser descarregada gratuitamente aqui. Vá, toca a levar o portátil quando forem deitar as vossas crianças. (Obrigado pela dica, Laura!)



(Bonito, bonito, seria se o Kolb se lembrasse de pegar na versão da história do Major Tom do "Ashes to Ashes"... aquela em que o Bowie canta "We know Major Tom's a junkie / Strung out in heaven's high / Hitting an all-time low...)

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Oito

E pronto. Passaram oito anos desde que este fundo amarelo com algumas letras e imagens por cima apareceu. Com um percurso a diferentes velocidades (a atual fase é, franca e lamentavelmente, de pouco tempo para maior animação do espaço), com maior ou menor predisposição ou disponibilidade para diferentes tipos de artigos, cá se foi aguentando. Ide aparecendo, que as portas vão continuar abertas. Eu juro.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Bera como ele

O senhor Tom Waits prometeu para hoje notícias frescas. E elas apareceram aqui. No próximo mês de Outubro, a dia 23, o senhor Tom Waits vai ter álbum novo nas lojas, com "Bad as Me" como título. Reparem que há sete anos que não havia álbum novo de originais do senhor Tom Waits. Posta de parte a miscelânea tripla "Orphans: Brawlers, Bawlers & Bastards", já esperávamos por álbum novo desde "Real Gone", de 2004. É ocasião para celebrar, como o senhor Tom Waits aqui o faz (...ou não o faz):



Será desta que iremos ter oportunidade de ver o senhor Tom Waits ao vivo por perto?

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Segurança à frente de um palco?

No início do mês passado, uma intervenção de última hora na na estrutura do palco principal do Alive, obrigou ao cancelamento e ao atraso de alguns dos espetáculos dessa noite de 8 de Julho. Segundo as reportagens de então, terá havido alguma contestação do público, mas nunca saberemos se a opção então tomada pela Everything is New não terá, afinal, evitado uma tragédia como as que se verificaram muito recentemente em outros dois festivais:

Há menos de uma semana, no dia 14, rajadas de vento a mais de 100 km/h fizeram cair o palco num festival de country realizado na cidade norte-americana de Indianápolis. Morreram cinco pessoas e mais de 40 ficaram feridas (vídeo amador).

Nesta quinta-feira, no famoso Pukkelpop, no norte da Bélgica, foram dois os palcos a caírem, na sequência da forte tempestade que se abateu sobre a zona. As últimas informações dão conta de três mortos e 40 feridos, 11 dos quais em estado grave (ver/ouvir notícia TSF).

Certamente que houve, em ambos os casos mais recentes, circunstâncias climatéricas que não existiram naquele dia do Alive e que são, diria um leigo em metereologia, raras em Portugal. Mas até que ponto são as estruturas dos grandes palcos ao ar livre realmente seguras e até que ponto estarão os organizadores, experientes ou não, dispostos a fazer o que lhes compete fazer, como aparentemente terá a Everything is New feito no Alive? Aquela velha história do palco dos Young Gods em Vilar de Mouros, já lá vão uns 15 anos, ter "andado" alguns metros para trás, é mito festivaleiro?

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Todos a Coura. Os que possam.

E lá começa hoje o único mega-festival português de rock, tout court, ainda organizado e programado por pessoas que não só gostam de música como sabem receber outras que, impressionantemente, também gostam, num espaço natural que causa inveja a todos que procuram fazer algo de semelhante por cá ou até mesmo por essa Europa fora. A programação deste ano é particularmente feliz, talvez mesmo uma das melhores da história do evento que já vai na 19ª edição (!). Para as duas ou três pessoas que ainda não sabem, temos, entre outras coisas, e já hoje, o cada vez mais popular Omar Souleyman, os Crystal Castles e os Wild Beasts (é todo um dia para os hipsters indies se babarem). Amanhã, há passadeira vermelha para os regressados Pulp. E há também Blonde Redhead! Sexta, há Deerhunter e Battles, numa noite encerrada pelos..., erm, Kings of Convenience. Sábado, o último dia, conta com os Mogwai, que irão apresentar em palco o recente (e excelente) "Hardcore Will Never Die, but You Will", e os Death from Above 1979. E ao longo destes dias, há ainda todos os outros palcos e o habitual "Jazz na Relva". Todas as informações em www.paredesdecoura.com.
Não há como não ser invejoso em relação a quem vai a Coura.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Nem os discos escapam à fúria londrina

Esta madrugada, pelas quatro da manhã, um armazém de discos em Londres foi destruído integralmente pelas chamas, em mais um episódio dos motins que tem assolado várias áreas da cidade. O edifício pertencia à Sony e albergava todo o catálogo da PIAS UK, a maior distribuidora do Reino Unido e representante de perto de 150 editoras independentes de todo o mundo. No meio do fogo, terão ficado destruídos discos do Beggars Group (4AD, Matador Records, Rough Trade Records e XL Recordings), da Domino, da Wall of Sound, da Warp, da Big Brother (o selo dos Oasis), entre muitas outras. Não há vítimas a registar.

Como irá isto afetar a distribuição de discos pelas ilhas britânicas e pela Europa em geral (e até a própria edição) é algo que ainda não é conhecido.

Notícia na pitchfork
Primeiro comunicado da PIAS

sábado, 6 de agosto de 2011

E neste domingo, quase passa despercebido, mas há...

GROUP BOMBINO!! Ou Bombino apenas, desde que o projeto foi editado pela Cumbancha. É no Jardim das Oliveiras do CCB, no programa habitual de verão "CCB fora de si", pelas 18h. A entrada é livre, claro.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Ben Chasny, Will Oldham, Max Richter, A Hawk and a Hacksaw, Murcof e outros no Maria Matos

O Maria Matos, em Lisboa, já conta há algum tempo com a (boa) programação do Pedro Santos (FLUR). Para este regresso às aulas que se avizinha e até ao fim do ano, há sete nomes que merecem uma espreitadela:

10 de Setembro: Six Organs of Admittance
30 de Setembro: Joana Sá "Through This Looking Glass"
24 de Outubro: Bonnie 'Prince' Billy
2 de Novembro: André Gonçalves "Displaced acts of (non)related causality #1"
5 de Novembro: Max Richter
6 de Dezembro: A Hawk and a Hacksaw
21 de Dezembro: Murcof & AntiVJ

Os bilhetes custam 12 euros, com desconto de 50% para os sub-30 e idosos. Entre 1 e 15 de Setembro, há hipótese ainda de adquirir uma assinatura para vários espetáculos, com descontos cumulativos. Mais informação em www.teatromariamatos.pt.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Err... errata (e mais algumas coisas)

Não fosse a Laura ter dado por isso no post mais abaixo e teria deixado passar um crime de lesa-consciência ao não ter incluído o trio de vocalistas da Iacútia Ayarkhaan na lista dos concertos preferidos da edição 2011 do FMM. Aqui vai uma tentativa de correção:

1. CONGOTRONICS vs. ROCKERS (Congo-Kinshasa/Ocidente)
2. MÁRIO LÚCIO (Cabo Verde)
3. MERCEDES PEÓN (Galiza)
4. VISHWA MOHAN BHATT & THE DIVANA ENSEMBLE "DESERT SLIDE" (Índia)
5. LE TRIO JOUBRAN (Palestina)

6. AYARKHAAN (Iacútia)



Já se sabia que o espetáculo das Ayarkhaan não iria deixar ninguém indiferente. As técnicas de canto usadas, em aliança com o estranho efeito que retiram do khomus, um berimbau de boca típico daquelas paragens orientais, penetram fundo nos sentidos que usamos durante um concerto. A perícia com que o grupo da veterana Albina Degtyareva o faz, expressa ora nos guinchos e relinchares que julgávamos estarem no campo das impossibilidades da voz humana, ora nos jogos rítmicos guturais feitos no berimbau, fazem elevar a consideração por este trio.

7. BERROGÜETTO (Galiza)
8. SECRET CHIEFS 3 (EUA)
9. ANTÓNIO ZAMBUJO (Portugal)
10. DE TANGOS Y JALEOS (Espanha)



Assim, sim. Outros motivos de interesse no festival, além do Ebo Taylor que saiu da lista com a publicação desta errata? Aqui vão algumas pontas soltas:

Mamer (China) - Pensávamos nós que íamos apanhar com o Mamer da balada folk e levámos com o grupo de Mamer do rock industrial.
Cheikh Lô (Senegal) - O grupo de Lô é bom, a sua voz ainda lá está, mas há ali qualquer coisa que deixou de funcionar e não é apenas por cortarem o som dos instrumentos do líder.
Manou Gallo & Women Band - A ex-Zap Mama toca que se farta e, com os anos de estrada que traz, sabe fazer bem a festa. E trouxe uma guitarrista linda!
Mama Rosin (Suíça) - São aborrecidos em disco, mas ao vivo fazem a p*** da festa.
Blitz the Ambassador (Gana/EUA) - Têm o espectáculo feito à americana, com muita coreografria, muita pompa. É bom para animar multidões. Estiveram perfeitos nas referências musicais, quando introduziam frases bem conhecidas de todos pelo meio das canções.
Shunsuke Kimura x Etsuro Ono (Japão) - Exímios na intepretação do shamisen, o instrumento de corda que traziam para dar a conhecer a Sines.
Graveola e o Lixo Polifônico (Brasil) - Os mineiros deram-se muito bem com o palco da praia, fazendo lembrar as melhores bandas de rock brasileiras, muito ecléticas, com muitos instrumentos e com vozes bem colocadas, especialmente nos coros. Há que conhecer mais do Graveola.
Nomfusi & The Lucky Charms (África do Sul) - Nomfusi, 20 anos, é herdeira, como ela própria diz, de Miriam Makeba e de Tina Turner, em partes quase iguais. É pequenina, mas enche o palco como poucos.
Sly & Robbie - Já foi o seu tempo. Arrastaram-se nos standards do reggae e tiveram uma das prestações mais aborrecidas do castelo.

A esquecer: Luísa Maita, Marchand vs. Burger, Dissidenten (não chegaram a ser azeiteiros, como receava, mas estiveram muito ferrugentos, muito aborrecidos), Aziz Sahmaoui & University of Gnawa (a maior seca deste festival - ainda por cima, tiveram direito ao fogo de artifício).

terça-feira, 2 de agosto de 2011

FMM Sinergia 2011

Prestes que está a terminar a ressaca de Sines e com o distanciamento adequado para recordar e resumir para palavras esta magnífica semana e meia de concertos e de férias com os amigos, eis um apanhado rápido dos meus momentos prediletos do FMM 2011:

1. CONGOTRONICS vs. ROCKERS (Congo-Kinshasa/Ocidente)



Se o "vs." que aparece tanto no título deste espetáculo como no do disco que lhe deu origem aponta para uma batalha entre forças aparentemente opostas, podemos começar por dizer que no disco, saíram vencedores os rockers ocidentais. Podem vir dizer que fizeram batota, porque pegaram no trabalho já feito pelos congoleses e adaptaram-no às suas intenções, aos seus pontos de vista. Mas é um grande disco. Continuando a olhar para o "vs.", os vencedores no palco já são claramente os congoleses. Juana Molina e os Deerhoof, principalmente a sua vocalista Satomi Matsuzaki, não se dão mal, ainda que na maior parte das vezes tenham os seus instrumentos com o som enfiado para baixo do tapete sónico construído pelas likembes eletrificadas (aquela espécie de pianos de mão ligados à distorção) e pela percussão dos africanos.
Todas estes considerandos sobre os vencedores da batalha interessam apenas para explicar uma diferença grande que opõe disco a espetáculo. Há outra ainda: no disco, são muitos mais os artistas envolvidos, principalmente entre os ocidentais. No palco, ainda que ali estejam 19 músicos (o 20º encontra-se hospitalizado), o som acaba por ser mais homogéneo, mais coerente, em duas horas de dança obrigatória. Fez recordar, em grande medida, o concerto dos Konono nº 1 no Jardim Botânico de Lisboa, mais até do que outro que há mais tempo deram junto à praia de Sines, também no FMM, ou, ainda no festival, aqueloutro dos seus atuais parceiros de estrada, os Kasaï All Stars. Intenso, esgotante. Talvez o melhor concerto que alguma vez o FMM acolheu.
Soube-se, em Sines, que anda a ser gravado um DVD com material resultante destes espetáculos. Vicent Kenis, o ex-Honeymoon Killers que descobriu para a Crammed e para o mundo estes músicos das ruas de Kinshassa e que com eles tem subido ao palco nesta espécie de união entre mundos diferentes, tão cara a um sítio como o Castelo de Sines, onde viveu Vasco da Gama, planeia ainda entrar com esta formação do espetáculo em estúdio, e daí produzir novo disco, mas talvez não venha a haver agenda para tal.

2. MÁRIO LÚCIO (Cabo Verde)



É engraçado saber -- foi o próprio que o disse -- que Mário Lúcio, na véspera do concerto, vestiu a pele de ministro da cultura de Cabo Verde, para discutir o "Estado da Nação" no parlamento do seu país. Um dia, o estado da sua nação. No outro, o mundo todo (mais palavras saídas da sua boca) que se aglomerava em Sines a dançar à sua música. Tivemos em palco alguém que sabe muito bem o que faz. São muitos anos de estrada, de como saber encher um palco, de como saber pôr um público em delírio. E o que temos ali não é apenas o que se pode ouvir nos discos. Há um artista e um grupo que o acompanha que se transformam, que vão além de Cabo Verde, que celebram a África sub-sariana em todo o seu esplendor. A ele ficam-lhe bem estas palavras, ditas perto do final: "Sines devia mudar de nome, para... Sinergia."
Devia ter sido o Mário Lúcio a festejar o fim dos concertos no castelo com o tradicional fogo-de-artifício.

3. MERCEDES PEÓN (Galiza)



Mercedes é a mulher mais musical, mais bonita, mais corajosa, mais desconcertante, mais arrepiante e mais comovente que pisou o palco do castelo nos últimos anos. Arrepia-nos a pele dos braços quando leva a sua voz para planos a que não estamos habituados, mareja-nos os olhos quando fala como fala das tradições em que pega para "desarranxar" ou da política que abraça com coragem. Foi a única artista a solo nesta edição do FMM, mas é de uma dimensão mais do que suficiente para encher todo o palco.

4. VISHWA MOHAN BHATT & THE DIVANA ENSEMBLE "DESERT SLIDE" (Índia)



Qualquer que seja a origem, qualquer que seja o credo, qualquer que seja a raça, há todo um mundo unido pela música das sete notas... Disse-o, mais ou menos assim, o mestre Vishwa Mohan Bhatt algures a meio da interpretação irrepreensível da sua slide guitar modificada com cordas simpáticas, ao jeito de instrumentos indianos como a sitar. Como se não bastasse o virtuosismo do mestre, o grupo de músicos ciganos do Rajastão que o acompanhava deu mais uma lição sobre a diáspora da música, de como o canto do flamenco não é assim tão diferente destes antigos músicos dos rajás. Até uma espécie de prima das castanholas mediterrânicas estava lá para ajudar à festa. Fica para a memória de momentos singulares deste festival -- eu estou quase a chamar-lhe-ia epifanias -- aquele em que o mestre fazia ditados rítmicos cada vez mais rápidos para os seus companheiros de palco...

5. LE TRIO JOUBRAN (Palestina)



Como dizia antes do festival, ouvir um alaúde bem tocado já é inebriante. Ora, torna-se difícil dizer o que é ouvir três tipos a fazerem-no ao mesmo tempo e, ainda por cima, a manterem diálogos vertiginosos e frequentemente improvisados, talvez possíveis apenas a quem cresceu junto, como estes irmãos Joubran.

6. BERROGÜETTO (Galiza)



Festival de world music sem um grupo da Galiza não é um festival de world music. Ainda que este FMM não seja, e ainda bem, o típico festival de world music. Os Berrogüetto são, ainda hoje, e com as mudanças de formação ocorridas, uma das propostas mais interessantes. Conservadores em disco e em palco, é certo, mas com todos os ingredientes habituais que tornam a música tradicional da Galiza tão apaixonante.

7. SECRET CHIEFS 3 (EUA)



Quem pensar que Trey Spruance é um monstro intratável, bem pode tirar daí a ideia. Nos bastidores, abundava não só em simpatia e humildade, como em curiosidade pelo que havia sido estas 13 edições de festival. Sentiu-se até "estúpido" por tocar a seguir ao Trio Joubran, como se pode ouvir no vídeo, na "flash interview" dada ao Mário Dias. Em formato de quinteto, surpreendeu muita gente que não esperava a música pesada dos SC3 no festival. E poderia ter sido um espetáculo ainda melhor, não fosse o longo tempo que perdia entre cada tema, a afinar a guitarra, por exemplo, e que fazia arrefecer o público, já por si apanhado nas noites frias do primeiro fim de semana do FMM.

8. ANTÓNIO ZAMBUJO (Portugal)



Na abertura do festival, não se podia exigir mais. De repente, havia um sorriso estampado na cara de todos. E o António Zambujo é o culpado. Ali temos, sem tiques de copista e sem que aqui se leia uma colagem-excessiva-de-que-os-artistas-portugueses-nunca-gostam, o nosso Chico Buarque, título pronto a ser degladiado com o também legítimo proprietário do título, ainda que menos versátil que o Zambujo, JP Simões.

9. DE TANGOS Y JALEOS (Espanha)



Quando El Peregrino, o senhor que aparentava 70 ou mais anos de idade, se levantava para dançar, o público explodia de alegria.

10. EBO TAYLOR & AFROBEAT ACADEMY (Gana)



Por pouca paciência que haja já para tanto afrobeat, o estilo funciona quase sempre bem no palco do castelo. E com Ebo Taylor, um dos nomes grandes do highlife ganês, a festa foi enorme, a dança foi irresistível do princípio ao fim.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Dos palcos para o gabinete

Mais um músico, neste caso uma música, que se torna ministra de cultura do governo do seu país: Susana Baca foi indigitada na passada quinta-feira pelo novo presidente da república do Peru, Ollanta Humala.